sexta-feira, 10 de outubro de 2008

O Modernismo tomou corpo em São Paulo

O Modernismo no Brasil tomou corpo em São Paulo e, fundamentalmente, para São Paulo. Seus adeptos pretendiam dar o grito de independência cultural da metrópole industrial contra o “atraso” do resto do país. A maior parte das obras do Modernismo foi escrita com o olho na Europa, outro na Paulicéia desvairada - a nascente metrópole industrial povoada de burguesia e proletários, caipiras e estrangeiros, palacetes tradicionais e arranha-céus que vagamente começavam a despontar-, como a chamava Mário de Andrade, escritor e musicólogo modernista. Tal processo já vinha se desenvolvendo. Em 1921, como uma preparação para as agitações do ano seguinte, o escritor Oswald de Andrade atestava a relação, criada pelos modernistas de São Paulo, entre a velocidade da urbanidade paulistana pós-cafeeira e o advento e a necessidade de uma nova arte, que deveria expressar essa nova realidade. Os homens e as mulheres que fizeram a Semana de Arte Moderna, fundamentalmente os paulistas, nasceram por volta da década de 1890 e não chegaram a conhecer a pacata São Paulo agrária do início do ciclo do café, quando o centro da cidade compunha-se de poucas ruas tortas, uma catedral, alguns mosteiros e pequenos prédios públicos. O que eles conheciam era a cidade do boom industrial, mais hospitaleira para italianos e sírios do que para caboclos e ex-escravos; uma jovem metrópole que aparentemente ignorava a tradição. Porém, esses entusiastas testemunham de certos aspectos do desenvolvimento econômico paulista, diferenciado do restante do país do princípio do século, presenciaram também uma contradição básica no seio da sociedade que se modernizava: apesar do vigor e do dinamismo econômico de São Paulo, a sociedade urbana estava ainda repletos de elementos patriarcais e conservadores, ao mesmo tempo uma parcela da intelectualidade vivia num exercício de imitação dos padrões culturais europeus. O capital básico da economia paulista era então o cultivo e o comércio do café que, desde meados do século XIX, havia se tornado um importante bem de consumo mundial, à medida que se desenvolviam as cidades e a vida urbana. Tornando-se rapidamente o principal produto de exportação brasileiro, o café ditou as linhas do processo de modernização: nas duas primeiras décadas do século XX atingiu cerca de 75% do valor global das exportações. Estradas de ferro construídas e portos foram reaparelhados para que o produto fluísse para o exterior. Entre 1890 e 1920, a população brasileira cresceu de 14 para cerca de 30 milhões de habitantes, segundo os recenseamentos da época. Embora o crescimento urbano no país fosse menor que o rural, a cidade de São Paulo, entre 1900 ( quando começaram a circular os primeiros bondes elétricos da Light) e 1920, dobrou a população, o que já acusava o início de sua transformação em grande cidade industrial. Com a baixa dos preços do café e a superprodução no setor, parte dos lucros passaram a ser aplicados na indústria e no aparelhamento urbano ( energia elétrica, importação de máquinas, remodelação de ruas e avenidas, canalização de rios, etc.). A partir da deflagração da Primeira Guerra Mundial, a industrialização foi incrementada para atender a demanda interna de produtos manufaturados. Em 1920, a Ford instalou sua primeira fábrica de montagem no Brasil. No plano das comunicações, instalaram-se em 1922 novas linhas postais, telegráficas e telefônicas, surgindo também o sistema de radiodifusão, que firmava o ideal de modernidade e rapidez. A informação tornava-se fundamental para o progresso: criava-se a “locomotiva no ar”. Assim São Paulo destacou-se dos demais centros urbanos do país. Mesmo assim a segunda cidade em termos populacionais, detinha 33% da população industrial brasileira. Verificou-se um brusco surto industrial até 1918, gerando uma conseqüente e relativa mecanização da vida cotidiana (máquinas e novas construções passaram a fazer parte do dia-a-dia do habitante da cidade), o que fundamentou o tom “futurista” do discurso dos artistas e intelectuais. Aconteciam os primeiros ensaios de produção industrial em larga escala: manteiga Aviação, queijos de Minas, louças dos Matarazzo, tecidos populares, etc. Fonte: A Semana de 22- A aventura modernista no Brasil- Francisco Alambert- Ed. Scipione